30 ANOS DE GRATIDÃO

12/07/2017

 Ela sorri para a vida e a vida sorri para ela. Serly de Melo Barros é de um coração maior que o corpo franzino, desses que acolhe todo mundo. Chegou ao Santa Cecília quase menina, instalou-se na Educação Infantil como Auxiliar de Classe e de lá nunca mais arredou pé. Conhece cada canto, cada história de vida, cada delicadeza do crescimento de uma infinidade de crianças que por ela passaram ao longo destes 30 anos.

Três décadas depois e ela conserva a mesma energia dos primeiros tempos. “Todo dia é um dia novo. É o mesmo trabalho, mas estamos lidando com pessoas, seres humanos, e eles são únicos, diferentes.”

Na Comunidade onde vive, ela não aceita o nome popular de “As Quadra”. “São Vicente de Paulo é o santo dos pobres, já pensou um nome mais bonito que esse?”. Ali onde vive, casou, teve o único filho, ela dedica boa parte de suas horas vagas a catequizar crianças, público a quem pretende se devotar integralmente ao se aposentar. Ao Santa Cecília, ela oferece toda a sua gratidão.

Com Serly, Verinha Franco, Gardênia Maciel e Marcília Rodrigues dividem este ano o título balzaquiano de 30 anos de Escola. Mulheres aguerridas, devotadas e que dedicaram boa parte da vida a nossa Escola. Elas comemoram, a Escola celebra e agradece.

Interatividade - Trinta anos de Escola é muito tempo. Qual o balanço que você faz destas três décadas?
Serly de Melo - Trinta anos vividos e bem vividos. Tudo que eu sei aprendi no Santa Cecília. A minha formação espiritual e profissional, este lugar foi uma escola para mim também. E até hoje, a cada dia, aprendo uma coisa diferente. Quando entrei aqui, eu era uma menina, tinha acabado de concluir o Ensino Médio e soube de uma vaga para auxiliar de sala. Eu já tinha experiência como voluntária em uma escolinha na minha comunidade, a São Vicente de Paulo. Criei coragem, bati na porta e conversei com Irmã Simone e dois dias depois eu estava em sala de aula, na Educação Infantil, onde me encantei e estou até hoje. Tenho muita gratidão por esta Escola, este é o sentimento mais forte. Há 20 anos, quando tive um grave problema de saúde e tive que passar por quatro cirurgias na cabeça, foi o Santa Cecília que cuidou de mim, através da Irmã Ana. Lembro-me de raspar o cabelo e ela dizer: “Cabelo cresce, menina”. Sou grata por tudo na minha vida, esta Escola só me fez o bem.

IN - Você chegou e ficou na Educação Infantil. O que tem ali de especial?
SM - Posso dizer que é o meu cantinho no Santa Cecília. Um lugar de aconchego, onde as crianças vão descobrindo o mundo. Só no Infantil 2, estou há 17 anos. É o primeiro contato deles com a Escola e vamos acolhendo, cuidando, facilitando nesse primeiro processo de socialização. Eu adoro, sinto que nasci para isto. Este ano recebi um desafio novo que é acompanhar uma criança que necessita de cuidados especiais, no 1º ano. Depois de trinta anos, eu achei que já tivesse feito tudo na Escola e recebo este presente, um novo aprendizado. Pensei: Senhor, eis-me aqui.

IN - Como é o seu ambiente de trabalho e o que foi mudando ao longo destes trinta anos?
SM - É maravilhoso! Me dou muito bem com as professoras regentes e os demais profissionais. O nosso trabalho só funciona bem se for em equipe, seguindo o planejamento, a programação, em sintonia. Nestes 30 anos, todo dia é um dia novo. É o mesmo trabalho, mas estamos lidando com pessoas, seres humanos e eles são únicos, diferentes. Não tem monotonia, você está sempre se renovando e é preciso procurar novos conhecimentos. Até os métodos de ensino vão mudando, hoje as crianças aprendem com mais rapidez porque estão criando seu próprio aprendizado, com muito mais autonomia.

IN - Você tem uma atividade de preferência com as crianças?
SM - Eu adoro o dia do banho porque elas se divertem muito! É o dia da meleca, de usar tinta, de brincar com argila, de se sujar. Além da diversão, tem muito aprendizado envolvido nessas atividades em que elas podem ser mais livres.

IN - E as crianças? Há as que marcaram mais?
SM - As que mais me marcaram foram as que mais choravam (risos). Na minha primeira turma no turno da tarde, havia uma menina que chorava muito, era o tempo inteiro grudada em mim e eu sofria com ela. Era preciso estabelecer os limites e tive muita dificuldade. Anos depois, voltei a encontrá-la em uma reunião no Centro Comunitário da Paróquia São Vicente de Paulo. Reconheci imediatamente. Ela contou que tinha se formado em Fisioterapia e estava trabalhando. Foi emocionante revê-la. Tem também os ex-alunos que retornam à Escola ou vejo na paróquia e é sempre aquela festa quando nos reencontramos. Muito bom ter notícias deles.

IN - Você faz um trabalho muito consistente de Catequese na Comunidade onde vive. Fale um pouco dessa experiência.
SM - São mais de 35 anos de trabalho de Catequese. Atualmente, eu coordeno a área de evangelização na comunidade onde eu moro, a São Vicente de Paulo, que tem vínculo com a Paróquia de mesmo nome. Lá, preparamos para o Sacramento da Eucaristia. Este ano, são 23 crianças em formação e temos um grupo de perseverança com os que já passaram pela Primeira Eucaristia. Eles estudam os valores do Evangelho, a formação pessoal e humana até fazerem 15 anos e se integrarem ao grupo de jovens da comunidade. Esse trabalho é feito juntamente com a Paróquia e seguindo o Carisma Damas, porque sou leiga associada ao Instituto das Religiosas da Instrução Cristã. “Mostrar a face atual do Cristo Educador”. Essa face mais humana, social, voltada aos que mais precisam.

IN - Você é muito gregária, participa muito da vida comunitária. Qual a importância da Comunidade São Vicente de Paulo na sua vida?
SM - Eu amo a minha comunidade! Um quadrado enorme no meio da Aldeota, populoso, cheio de desafios, sobretudo para as crianças, e, ao mesmo tempo, muito acolhedor. Lugar de gente trabalhadora. Se você chegar lá precisando de alguma coisa, uma cesta básica, as pessoas são mobilizadas pela rádio comunitária e em um minuto o problema é resolvido. É uma comunidade de pessoas trabalhadoras, que fazem o bem. Tem de tudo: se precisar de costureira, marceneiro, boleira, tem. Tudo com preço acessível e muito gostoso. Eu não tenho nenhum interesse em sair de lá, me sinto perfeitamente integrada e luto para que possamos superar as dificuldades que, na verdade, existem em todos os lugares.

IN - Você é muito maternal e teve um único filho, o Roniere. Como é a relação com ele?
SM - Sempre gostei muito de estudar e meu filho também. Priorizei a formação dele e o resultado é muito gratificante. Passou na UECE e na UFC. Cursou Jornalismo, conseguiu um estágio em um grande jornal local e depois foi integrado à equipe. Vai começar agora a estudar língua alemã, na UFC. Eu começaria tudo de novo pelo Roniere, um companheiro, uma pessoa que está comigo em todos os momentos da minha vida e cuida de mim. E tenho muitos outros “filhos” na comunidade. Se pudesse mudar alguma coisa nestes anos, seria ter estudado Psicologia e Teologia, mas, logo que eu me aposentar, vou botar em prática. Quero continuar trabalhando depois de me aposentar, voluntariamente, para ajudar as crianças.

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