Conhecer em profundidade a Base Nacional Comum Curricular é um desafio para todas as instituições de ensino no Brasil. Sensível a essas transformações na legislação, a Associação Nacional de Educação Católica - Ceará dedicou seu Dia ANEC ao aprofundamento dos fundamentos da nova BNCC.

A palestrante, Katia Stocco Smole, uma das maiores especialistas na Base Nacional Comum Curricular, subiu ao palco do Theatro Via Sul Fortaleza para apresentar a Base e ressaltar a importância do equilíbrio entre os conteúdos e a formação humana. Ela discorreu, com muita propriedade, sobre os princípios que norteiam a nova BNCC e sobre como foi estruturada no sentido de priorizar a experiência, a exemplo da Educação Infantil.

Gentilmente, Katia respondeu a perguntas sobre a BNCC formuladas pelos educadores das escolas católicas do Ceará e os impactos no cotidiano escolar.

ANEC Ceará - Como a Base Nacional Comum Curricular pode assegurar a articulação, continuidade e transição da Educação Infantil ao Ensino Médio?
Katia Smole - A BNCC só pode fazer uma parte dessa tarefa importante de garantir que todos aprendam continuamente ao longo da escola: apresentando o que é esperado que os alunos aprendam em cada etapa da escola, progressivamente, em níveis cada vez mais altos de aprendizagem. No entanto, às escolas cabe elaborar currículos e propostas pedagógicas. Será, como sempre foi, da escola a tarefa de fazer acontecer a Base e desenvolver progressivamente a aprendizagem dos alunos.

AC - Qual o maior desafio da BNCC para a prática docente?
KS - Conhecer em profundidade a BNCC e seus fundamentos; entender o sentido de progressão que há nas aprendizagens previstas e se preparar para ensinar por metodologias ativas; compreender como desenvolver competências em seus alunos e se formar para as inovações trazidas na BNCC, como, por exemplo, a álgebra nos anos iniciais do fundamental.

AC - Como esse documento pode colaborar para a construção da identidade e profissionalização docente?
KS - Trazendo formação continuada, mas, especialmente, ajudando a renovar os cursos de formação inicial de professores. No entanto, é preciso ficar claro que a BNCC não é vara de condão e não muda sozinha tudo que diz respeito à educação do País. Há coisas, como a valorização da carreira docente, que precisarão de outras ações além da Base para acontecerem.

AC - Como a BNCC contribui para assegurar as especificidades de cada etapa da educação básica, distanciando-se da visão "reproducista" entre as etapas?
KS - Não sei se entendi a pergunta, mas a BNCC dialoga com cada fase da escola, garantindo que os alunos tenham aprendizagens em continuidade, em níveis de complexidade distintos e de acordo com aquilo que caracteriza uma etapa específica da escola.

AC - Qual a relação da BNCC com a pedagogia crítica?
KS - A BNCC não advoga por nenhuma pedagogia em especial, mas o fato de que a criticidade, a criatividade, a capacidade de argumentação e a meta em desenvolver no aluno a visão de um projeto de vida e suas competências socioemocionais dão indícios de que se quer formar um ser pensante, atuante, engajado. Há um fator importante: hoje defendemos uma pedagogia crítica, mas muitas vezes nossas aulas vão na contramão disso, sendo marcadas pela exposição, pelo desejo de que os alunos aprendam para fazer provas, aprendam sem oportunidades para trabalhar em times, com atividades que não exigem mais do que memorizar fatos. Esse cenário precisa ser mudado também para que a chamada pedagogia crítica aconteça de fato, seja lá o que ela signifique.

AC - Quais os maiores desafios para a implementação da BNCC?
KS - Primeiro a elaboração dos currículos e das propostas pedagógicas, segundo a formação continuada e inicial dos professores.

AC - Quais são os impactos da implementação da BNCC na Educação Brasileira a curto prazo?
KS - Especialmente fazer o País inteiro discutir a própria Base e pensar naquilo que precisa mudar a partir do que ela propõe, a adequação dos livros e dos currículos. No entanto, a meu ver, os efeitos maiores e profundos virão a médio prazo. Será preciso rodar um ciclo inteiro para vermos as mudanças em profundidade acontecerem.