Simplesmente Belo
Ir ao Theatro José de Alencar me provoca um encontro com a cidade de Fortaleza. Uma cidade grande, cheia de problemas, brilho e molecagem que só nós temos.
Ele está ali plantado no Centro da Cidade, no que nos identifica como cidade, com povo. A arquitetura do TJA faz os olhos dançarem. Imponente, contrasta com as ruínas do próprio Centro, que teima em guardar a história.
Foi ali, naquele templo das artes, que o Balé Jangurussu, da Edisca, começara suas primeiras apresentações e já se vão mais de duas décadas.
Lembro o frisson que causou o seu começo, um balé cheio de movimentos e sentimentos fortes, que trazia um grito e uma sensualidade bruta, no melhor sentido das palavras e que poderiam ser traduzidas por verdadeiro.
Dora Andrade, a idealizadora e guerreira que manteve esse ideal acesso, remonta as mulheres de fibra, uma Joana d'Arc sem escudo e espada, mas que deixa o cabelo voar em cima do seu cavalo negro.
Hoje, depois de diversas voltas que a terra deu em torno de si, ela sobe ao palco, ela só não, com algumas bailarinas do primeiro espetáculo. Mulheres carregando crianças nos braços e no útero. Meninas que ainda guardam um sorriso e as marcas das batalhas travadas em uma sociedade desigual. Não desistiram. Aprenderam a guerrear.
A fala no palco é doce, suave... mas dispara a flecha: “Precisamos de todos que acreditam em sonhos e tem fome de realizar.”
Fortaleza, Edisca, Balé Jangurussu. Moças e rapazes que bailam com dedicação, com precisão, com graça e com fortaleza.
Aterro sanitário, urubus, plástica, drama, inspiração, decomposição, lixo, conquistas, perdas, público, compromisso, resistência... beleza.
Ivan Guimarães – Gerente do Setor de Comunicação