Educador sempre aprendiz

Thiago Maciel, professor de Matemática, fala sobre o aprendizado no contexto da pandemia.
03/06/2020

"Eu fui uma criança e um adolescente acostumado a brincar na rua, inclusive esta expressão “brincar na rua” era muito comum na década de 1990. Eu vivia em uma casa, só morei em apartamento depois dos 30 anos, e, quando eu finalizava as lições da escola, meus pais me liberavam para ir para a rua, jogar futebol, em um campo pertinho dali, e andar de bicicleta. Eu tive uma adolescência muito livre fora de casa, com as devidas precauções e recomendações de segurança.

Eu lembro que ganhei o primeiro videogame com uns 12 anos, mas a recomendação era brincar por pouco tempo e eu, na verdade, nem tinha muito interesse em ficar na frente dos games, porque eu gostava era de futebol e de bicicleta. Parece exagero, mas eu andava muito de bicicleta, uns 3 ou 4km rodando pelo bairro e naquele ritmo bem dinâmico. O meio virtual não me atraía muito naquela época, mesmo tendo videogame.

Quando eu tinha uns 17 anos, tive acesso ao primeiro computador. Proporcionava uma série de facilidades, mas eu achava monótono, até mesmo as disciplinas da escola com aulas de computação não me atraíam muito. Meu negócio era praticar esporte. Na graduação, sim, o uso se intensificou, na minha área, Física e Matemática, mas ainda assim eu usava muito o caderno e os livros, tanto é que ainda escrevo muito bem à mão. Nas minhas aulas, eu uso muito o quadro.

Este ano, a partir de março, muita coisa mudou. Embora os usasse, os meios virtuais nunca exerceram grande fascínio. Tenho praticamente todas as redes sociais, mas as utilizo como fonte de pesquisa, por exemplo, para o esporte que pratico hoje, a corrida. Sou maratonista amador. Me informo sobre provas de corrida, sobre viagens, ou seja, o uso que eu faço tem muita relação com o mundo físico.

O contexto da pandemia me levou a intensificar a relação com o meio virtual e, em poucos dias, aprendi muita coisa que eu não conhecia. E é incrível a capacidade do ser humano para a aprendizagem. Me dediquei a esta preparação para as aulas remotas, baixei vários aplicativos para dar aula na mesma qualidade que eu dava presencialmente, adquiri microfone de lapela para melhorar a captação do som e uma mesa digitalizadora, permitindo que eu escreva à mão e apareça instantaneamente na tela do meu aluno. Um fato interessante: como eu sempre tive muito apreço pela escrita, não tive dificuldade de adaptação, porque eu já tenho a prática de escrita à mão.

Ganhar novas habilidades tem sido um processo muito prazeroso e é nesse sentido que eu queria destacar que o professor é um eterno aprendiz. O professor está constantemente querendo aprender para ensinar da melhor forma possível. Ele é um elo, como se fosse uma ponte, entre os grandes pensadores e os aprendizes, e todos aqueles que tenham interesse em aprender. Então, neste momento de pandemia, eu me senti, por excelência, essa ponte, esse elo entre conhecimentos.

No conteúdo que estamos trabalhando agora, que envolve resolução de sistemas de equações e produção de plano cartesiano, os recursos virtuais têm sido muito interessantes, por exemplo, na precisão da produção de um gráfico. Assim, quando você quer passar alguns conceitos de matemática como uma reta é infinita ou apresenta infinitos pontos, fica bem mais fácil de visualizar. Os recursos virtuais ajudam o aluno a perceber determinadas nuances, mas sem excluir a ação física, ou seja, o livro e o caderno não devem ser substituídos, porque eles são fundamentais. Se tenho habilidade com a mesa digitalizadora, é porque tenho a prática da escrita manual.  Quando você consegue equilibrar a ação do virtual com o físico, a aprendizagem ganha muito. Embora desafiadora, a experiência das aulas remotas tem sido encantadora na finalidade de produzir um conhecimento de excelência para o meu aluno."

 

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