Entrevista Lucas Paiva - ENEM

Uma das melhores notas do ENEM no Brasil.
20/01/2017

Saiu a nota do ENEM. A pontuação do Lucas Paiva, aluno do Colégio Santa Cecília, foi 853, resultado que está entre os melhores do Brasil. Lucas vê os números com tranquilidade, como um passo largo de um processo que se inicia muito antes: na escolha por escolas que trocam as fórmulas prontas pelas ferramentas, para que cada um vá abrindo seus próprios caminhos.

De casa, ele herdou o gosto pela música, pela leitura, pela filosofia, pelo trânsito nos espaços públicos... Uma herança que o fez gostar de refletir sobre as coisas do mundo. 

Embora a nota possa levá-lo a qualquer lugar do Brasil, a qualquer curso, ele já fez sua escolha: Engenharia Mecânica na USP - Universidade de São Paulo. A aposta é em um conhecimento mais geral e, futuramente, enveredar pela pesquisa em energias renováveis.

 

 Do Santa Cecília, Lucas vai levar “este sentimento de união, de companheirismo, este clima que é maravilhoso. Vou sentir falta”. 

 

Santa Cecília - Lucas, vamos começar falando dos números do ENEM. A sua nota foi 853, uma das maiores do Brasil. O que isso quer dizer para você?

Lucas Paiva - É a concretização de um trabalho que eu fiz o ano inteiro. O esforço de manter o foco, vir estudar no turno da tarde na Escola, de tentar manter as matérias em dia. No final, deu tudo certo e compensou. O gabarito oficial já tinha saído, eu já esperava uma nota alta, mas não tão alta (risos). Quando eu vi que a nota da Redação tinha sido realmente muito boa, comecei a tremer na frente do computador porque realmente não acreditava. Tudo que havia planejado tinha dado certo.   

SC - O ano de conclusão do Ensino Médio é geralmente bem difícil em função da tensão de conquistar uma vaga na universidade, se despedir da vida escolar... Como foi 2016 para você? Como conciliou os estudos e as demais dimensões da sua vida? 

LP - Pessoalmente, 2016 foi o melhor ano da minha vida porque, à medida que eu estudava muito, eu também acabava me divertindo muito. Quando você tem pouco tempo disponível, acaba aproveitando mais esse pouco tempo, valorizando mais o pouco tempo que tem. A própria convivência diária eu achava muito agradável na sala de aula. A gente era realmente unido, estava sempre junto, conversava, deixava de lado um pouco o estudo e realmente aproveitava a convivência, os momentos de descontração. Embora não esteja investindo diretamente no estudo, o ambiente agradável potencializa. A maioria das coisas da rotina eu não parei, só dei uma diminuída. Eu gosto muito de acompanhar futebol, por exemplo, não pude assistir a muitos jogos, mas um ou outro acompanhei, porque realmente me faz bem, é uma coisa que gosto de fazer. Outras atividades são como válvulas de escape. Eu passei o ano todo fazendo exercícios na academia, não foi muito regular, mas fui. E no final do ano ajudou muito porque eu passava a tarde estudando na escola e à noite eu ia gastar minha energia malhando. Eu também não parei as aulas de violão e piano porque são coisas que realmente ajudam, principalmente por causa da dimensão da música, que mexe com a cabeça. No último mês, eu comecei a fazer ioga para ajudar na concentração, meditação, e realmente ajuda, pois o foco é uma coisa muito importante em uma prova dessa na qual você tem pouco tempo para fazer muita coisa.   

SC - Lucas, você vem de uma família muito musical, afeita à literatura, às tradições da cultura popular... O que dessa relação familiar contribui para um resultado tão expressivo como esse do Enem?

LP - Sempre tive um bom clima para estudar em casa, e isso ajuda muito. Uma boa relação com a família ajuda muito na preparação para um exame desses. A minha relação com os meus pais serviu para me dar um repertório, uma formação bem útil para compreender algumas coisas, até pelos diálogos com eles eu acabei fazendo algumas reflexões que repercutiram na prova. É importante, inclusive, na redação porque conta muito quando você expande a sua reflexão. O tema deste ano foi “caminhos para o combate à intolerância religiosa no Brasil”. Por sorte, o tema foi praticamente o mesmo da redação do Vestibular Simulado das Escolas Católicas e, quando você já pensou sobre o assunto, fica bem mais fácil organizar suas ideias e passar para o papel.

SC - Você é músico, está inclusive envolvido diretamente no Bulbrax, último projeto musical do Flávio Paiva, seu pai.  Como é a sua relação com a arte?

LP - A arte é fundamental para viver bem e, no meu caso, especialmente a música. Ouvir música para mim é uma experiência libertadora, pode servir para muitos propósitos e eu faço isso todos os dias. Ela pode estar associada a uma causa social, pode simplesmente contar uma história; outra que não tem nem letra, mas você sente a melodia. Então, para mim é uma experiência catártica. No último trabalho do meu pai, o Bulbrax, eu participei da composição de uma música. Em relação à dança, a experiência de dançar na SICE foi nova. É exaustivo porque tem os ensaios, coincide com o período de aulas, mas é uma experiência inigualável. Não é pela dança em si, é mais por estar dançando junto com os seus amigos, o propósito é curtir e celebrar esse momento.   

SC - Você ingressou no Santa Cecília no início do Ensino Médio, vindo do Canarinho e do Sapiens, escolas que também valorizam muito o indivíduo. Como é a sua relação com esse tipo de formação? O que leva do Santa Cecília?

LP - Com relação à filosofia dessas escolas, eu acho que é uma das maneiras mais apropriadas para educar alguém. Em vez de você “formar” alguém, essas escolas dão os parâmetros para que você possa se constituir. Então, você tem os recursos para ser quem quiser ser e tem a liberdade também, por isso eu acho uma grande filosofia de educação. Refletir sobre as coisas que estão acontecendo, por  que elas são assim, quem você é, em uma idade em que você está ainda se descobrindo... Se perguntar sobre essas coisas, mesmo que não tenha uma resposta concreta, fomenta uma reflexão. Isso vai lhe formando, lhe constituindo no próprio processo, e não no fim. Do Santa Cecília, o que vou levar para a vida é este sentimento de união, de companheirismo, este clima que é maravilhoso. Vou sentir falta.

SC - Você vai cursar engenharia, não é?

LP – Sempre gostei muito das exatas, mas também de filosofia, cinema... A decisão veio depois de uma viagem. Passei dois meses na Inglaterra no final de 2015 e, durante essa viagem, eu conheci um museu em Londres que questiona a relação do homem com a cidade, no sentido de propostas urbanísticas, soluções para a cidade, especialmente na questão da produção de energia. Fui, então, fisgado por essa questão das energias renováveis e optei pela engenharia mecânica, porque depois posso me especializar nisso ou descobrir outras coisas. Eu pretendo trabalhar em pesquisa, embora isso seja difícil no Brasil. 

SC - Como você vive a cidade, a relação com os espaços públicos, com as ruas, com os que vivem nela?

LP - As pessoas não andam nas ruas por medo da violência urbana, mas isso acaba gerando um ciclo. Quanto mais desabitada, mais violenta ela é. Daí a importância de andar nas ruas, quanto mais pessoas estiverem nos espaços públicos, menor é a probabilidade de algo acontecer. Claro que depende de vários outros fatores, mas usar os espaços é fundamental. Meus amigos e eu gostamos muito de andar de bicicleta. Alguns lugares são mais suspeitos, no entanto, o pior é deixar de andar nos locais. Ter cautela sempre e não abrir mão de conhecer. Em Fortaleza, há muitas opções de programas culturais em locais como o Cineteatro São Luiz, o Centro Dragão do Mar, que tem várias opções de shows gratuitos, teatros sendo restaurados, ou seja, você tem a chance de viver novas experiências e ir se transformando a partir delas.

SC - Os que chegam agora ao 3º ano, naquela ansiedade, devem estar bem interessados em descobrir “a fórmula”. O que diria a eles? 

LP - Eu diria que é uma questão de autoconhecimento. Não adianta você estudar doze horas por dia se você só rende três e não conhece os seus próprios limites. Você pode estudar três horas, depois descansar, ou jogar futebol, ou assistir a um filme...  E voltar a estudar de novo. O que adianta se forçar a estudar doze horas direto se em nove delas você não vai render. É por isto que eu digo que é uma questão de autoconhecimento. Chegou um dado momento em que eu não conseguia mais estudar em casa, então passei a vir ao colégio, mudando o ambiente de estudos, onde havia outros colegas estudando, e isto me motivava.  Os seus amigos servem de inspiração, e uma coisa importante é que a relação não pode ser de competição. Eles não são seus concorrentes, são seus amigos. A lógica é: eu vou lhe ajudar e, se der tudo certo, vamos passar os dois. No meu caso, outra coisa fundamental são os momentos de descontração. Eles passaram a ter uma importância muito grande e me estimularam a renovar as energias e retomar os estudos. Se você se organizar, não precisa abrir mão de tudo. O importante é encontrar o equilíbrio que funciona melhor para você.

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