Tecendo Diálogos no enfrentamento ao bullying
As habilidades socioemocionais são imprescindíveis para uma boa convivência social, pois, através da sua prática, as pessoas podem interagir de forma mais gentil e colaborativa, buscando o entendimento e a harmonia nas relações em suas famílias, grupos e comunidades.
A escola é um espaço de vivência coletiva, em que estão postos desafios próprios da vida em grupo. Esperar sua vez, escutar o outro, negociar o uso de objetos, lidar com conflitos, tudo isso aprendemos na vida em grupo. Tais habilidades têm ganhado cada vez mais destaque na educação de crianças e jovens, principalmente nas escolas, a partir do reconhecimento da importância de se construir relações sociais mais respeitosas e inclusivas, que se contrapõem a uma cultura de banalização da violência e do fenômeno do bullying.
O bullying pode ser compreendido como comportamentos repetitivos praticados por uma pessoa ou grupo contra alguém, geralmente mais vulnerável ou fragilizado, com a intenção de ofender, discriminar, machucar e/ou excluir, podendo gerar adoecimento psíquico. Esse movimento pode acontecer, também, no campo virtual, sendo chamado de cyberbullying.
O período de lockdown e os diversos desdobramentos da pandemia do COVID-19, inclusive o ensino remoto, impactaram no desempenho das habilidades socioemocionais, pois prejudicaram o encontro com o diferente, diminuindo a criação de um repertório comportamental em relação a resoluções de conflitos e o saber relacionar-se em pares ou coletivamente.
Todos foram afetados, mas especialmente crianças e jovens que estão em formação e que agora enfrentam o desafio de reaprender e redescobrir o potencial para a tolerância, para o respeito, para a flexibilidade de pensamento, para o cumprimento de regras de convivência e para a compreensão das diferenças.
Vivemos em uma sociedade pautada pela competição e o individualismo, que podem prejudicar o desenvolvimento das habilidades socioemocionais. Cabe a todos nós o desafio de questionar essa lógica e tomarmos o conflito como uma oportunidade de crescimento, reflexão e aprendizagem. Não se trata de negá-lo, mas de analisar possibilidades de lidar com ele para construirmos uma convivência pautada na empatia e no respeito.
Discutir sobre o bullying, colocá-lo como um tema de interesse e responsabilidade de todos é construir uma cultura de paz pautada na afirmação do reconhecimento da dignidade do outro e no respeito às diferenças e aos direitos de todos. Dessa forma, reconhecer a aprendizagem de valores e habilidades socioemocionais voltadas à empatia, à compaixão e à solidariedade como formas de modificar nossa realidade. O autoconhecimento, a autogestão, a compreensão social, a autorregulação das emoções e a responsabilidade são algumas aptidões que favorecem a convivência ética e harmoniosa consigo mesmo e em sociedade.
Se muitos desses comportamentos conflituosos que observamos nas relações escolares podem ser reflexo daquilo que é vivido no âmbito micro/macrossocial, podemos nos questionar: “Então significa que não há o que ser feito?”. Ao contrário, quer dizer que nós temos em mãos a possibilidade de combater e fomentar uma cultura de paz. Esta não é uma tarefa fácil! Por isso, hoje, 07 de abril, Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência nas Escolas, destacamos essa temática tão relevante e convocamos a comunidade escolar para fazer parte dessa reflexão e, principalmente, dessa transformação social.
Sendo assim, compartilhamos alguns pontos significativos que contribuem para identificar, prevenir e cuidar de comportamentos reconhecidos como bullying:
- Reconhecer que o fenômeno do bullying não é brincadeira. Quando atitudes e apelidos são irônicos e ofensivos, deixa de ser uma brincadeira e torna-se uma violência verbal.
- Estar atentos a possíveis expressões agressivas, as quais, por vezes, fazem parte do nosso cotidiano e do nosso vocabulário: expressões populares e gírias, por exemplo, podem acabar justificando e estimulando comportamentos violentos.
- Ofertar espaços de diálogos e de denúncia: esse é o papel de todos os adultos envolvidos no acompanhamento da criança e do adolescente, seja educador, familiar, seja cuidador.
- Cuidar, orientar e identificar os envolvidos no contexto do bullying: o perpetrador da violência, a vítima e os espectadores. Todos precisam de cuidados e de intervenções assertivas, de acordo com cada papel exercido na situação.
- Favorecer ações contínuas que abordem a temática do bullying e que ressaltem as habilidades socioemocionais, valiosas ferramentas para o enfrentamento desse tipo de violência.
Prevenir e intervir no fenômeno do bullying requer um compromisso sistemático com o assunto e uma instigação para a seriedade do problema e suas consequências. A Escola compreende que essa temática precisa ser trabalhada não somente no dia de hoje, mas frequentemente, assim como o incentivo ao desenvolvimento das habilidades socioemocionais, extrapolando o que é conceitual e atingindo a dimensão vivencial.
No intuito de contribuir para a ampliação do olhar da família, das crianças e dos jovens sobre essa temática, compartilhamos algumas sugestões de leitura, que inclusive estão disponíveis na biblioteca de nossa Escola. Sugerimos que cada responsável leia com antecedência, avalie e conheça o conteúdo, bem como analise a adequação com a faixa etária e com o entendimento familiar sobre o assunto.
Sugestões de leitura:
As asas do burro do Einstein – Marcos Cezar de Freitas
Bullying não é amor! – Silmara Rascalha Casadei
Coração que bate sente – Regina Rennó e Regina Otero
Diário de um bravo – Flávia Savary
E se fosse com você? – Sandra Saruê e Marcelo Boffa
Extraordinário – R. J. Palacio
Nesta semana, o Serviço de Psicologia Escolar e Orientação Educacional do Colégio Santa Cecília está mobilizando, com os alunos, uma campanha de conscientização sobre o bullying. Desse modo, reforçamos a importância da parceria entre escola e família no combate a qualquer tipo de violência, educando nossas crianças e nossos adolescentes para uma participação ativa na construção de um ambiente coletivo saudável, compassivo e pacífico.
Serviço de Psicologia Escolar e Orientação Educacional – SPE